Igor Gielow
Folha
Folha
O pedido de recriação do Ministério da Segurança Pública foi articulado com o presidente Jair Bolsonaro antes de sua reunião com secretários estaduais da área, ocorrida na quarta-feira, dia 22, e que reacendeu o processo de fritura do ministro Sergio Moro.
O colegiado que reúne os secretários, o Conselho Nacional de Segurança Pública, tinha reunião marcada para as 9h da quarta-feira, em Brasília. Nela, a recriação da pasta oriunda do governo Michel Temer (MDB) não constava da pauta. Duas horas antes do encontro, o secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres, foi recebido por Bolsonaro no Planalto.
RECRIAÇÃO DA PASTA – Por volta das 11h, Torres informou ao presidente do Conselho, o secretário baiano Maurício Teles Barbosa, que haveria a possibilidade de encontrar Bolsonaro naquela tarde e que o tema da reunião seria a recriação da pasta — que foi fundida à da Justiça, criando o superminstério entregue a Moro pelo presidente.
Os secretários e seus representantes presentes estranharam, segundo o relato de três dos presentes. Foi feita uma votação, que registrou 11 votos a favor da confecção do pedido de recriação em carta, e 9 contrários. Apesar do quase empate e de o fórum não estar completo, o encontro no Planalto ocorreu. Um dos argumentos entre os presentes é que o fórum havia pedido há um ano um encontro com Moro e não havia sido atendido ainda.
SINALIZAÇÕES – Isso não dirimiu divergências, contudo. Estados importantes, como São Paulo, são contrários à divisão por considerar que ela dobraria algumas burocracias. Com a ação transposta ao Planalto, mais sinalizações estranhas para o time de Moro. O ministro não foi chamado para a reunião, e oficialmente foi divulgado que ele faltou porque estava em um encontro sobre segurança cibernética com americanos.
O ministro havia tido um encontro com Bolsonaro no Planalto às 11h30, mas o assunto da conversa não foi revelado. Um representante da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) foi ao Planalto, mas não teve acesso ao encontro. O órgão é quem coordena a interação das secretarias estaduais com o ministério de Moro.
AUGUSTO HELENO NEGA – Na reunião estavam os secretários, Bolsonaro e os ministros Augusto Heleno (Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). O general da reserva Heleno negou, em uma postagem no Twitter, que a ideia tenha partido do Palácio do Planalto.
“A proposta de recriar o Ministério da Segurança Pública não é do presidente Jair Bolsonaro, e sim da maioria dos secretários de Segurança estaduais”, disse, completando que “em nenhum momento o presidente disse apoiar tal iniciativa”.
A proposta de recriar o Ministério da Segurança Pública não é do Presidente Jair Bolsonaro, e sim da maioria dos Secretários de Segurança Estaduais, que estiveram em Brasília; nesse 22 de janeiro. Em nenhum momento, o Presidente disse apoiar tal iniciativa.
10,7 mil pessoas estão falando sobre isso
PIVÔ – O pivô do movimento foi o secretário Torres, um aliado fiel de Bolsonaro e cotado desde o ano passado para substituir o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Ele é próximo do ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), antigo companheiro de Bolsonaro em iniciativas da dita bancada da bala no Congresso, que segundo conhecidos acalenta o sonho de virar ministro da Segurança. Ele é um crítico contumaz de Moro, e considerado uma das vozes do presidente no Congresso.
Conforme aliados de Moro, a sinalização dada por Bolsonaro é de desgosto pelo desempenho do ministro em sua entrevista na segunda-feira, dia 20, ao programa “Roda Viva” (TV Cultura), onde não teria sido enfático na defesa do chefe ante críticas de jornalistas. Críticos do ministro no governo viram na entrevista a figura de um candidato a presidente, e não a de um servidor do governo — ou da “causa”, como gostam de dizer bolsonaristas mais fiéis.
FORA DO CONTROLE – O flanco de ataque é o mesmo do ano passado, quando Moro quase foi demitido no segundo semestre. Bolsonaro ensaiou remover Valeixo e Moro se colocou frontalmente contra a ideia. Agora, se o ministério for recriado, a Polícia Federal e outras estruturas automaticamente saem do controle do ex-juiz símbolo da Operação Lava Jato.
Isso tem implicações diversas. A PF acompanha direta ou indiretamente investigações politicamente sensíveis, como aquelas sobre o filho senador de Bolsonaro, Flávio (RJ), ou a do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista.
Apoiadores de Moro consideram que o movimento atual pode simplesmente visar “dar um susto” no ministro, que se mantém como o integrante mais popular do governo, segundo o Datafolha. Como o próprio ministro irá participar dos prometidos estudos sobre a cisão de sua pasta, é provável que ela só aconteça se houver uma ordem direta de Bolsonaro para tal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário